
17 jul 2017 EXPOSIÇÃO Kengo Kuma – Eterno Efêmero
Kengo Kuma é um dos arquitetos mais inventivos do Japão. A essência de seu trabalho está em utilizar a tradição construtiva japonesa como base para um desenho contemporâneo e inovador. Seu uso marcante do espaço diáfano, da luz natural, dos elementos orgânicos e das técnicas artesanais dão às suas construções uma personalidade fortíssima e um sentimento de envolvimento e presença que não se costuma esquecer. Arquiteto responsável pelo edifício da JAPAN HOUSE SÃO PAULO, ele assina também, entre inúmeros projetos grandiosos pelo mundo, a criação do novo estádio Olímpico de Tóquio, para 2020, e do importante museu Nezu, em Tóquio, dedicado à arte japonesa pré-moderna.
Tee Haus – (c) Antje Quiram
Parte da inteligência da obra de Kuma reside exatamente na forma como ele ressignifica o vazio. No Japão, edificar é criar espaços de vazio – algo radicalmente diverso da noção de nada do senso comum ocidental. Na cultura japonesa, o vazio é um lugar para o potencial acontecer – e a arquitetura, a criação desse ambiente de oportunidade. Kuma também acredita na importância de não deixar a arquitetura se impor sobre a natureza ou o meio ao redor; ela precisa ser contida pelo entorno, não ofuscá-lo. A integração desses valores em seus projetos e de uma identidade fortemente contemporânea faz dele um dos grandes pilares da arquitetura japonesa atual. A beleza e a funcionalidade de suas obras ganharam reconhecimento global, e hoje ele atua em todos os continentes.
No Japão, terra de terremotos constantes, o conceito de patrimônio passa pelo saber fazer. Se algo ruir, é preciso, sempre, poder reconstruir – e manter o conhecimento técnico vivo é estratégia fundamental de preservação da memória. Por sua vez, a melhor maneira de fazê-lo talvez seja atualizar as técnicas constantemente, confrontando-as com o desenho de nosso tempo. Kengo Kuma entendeu isso como poucos e incorporou ao seu fazer o bambu, o washi (papel japonês), a técnica sukyia de construção em madeira, privilegiando o orgânico em vez do sintético. Esse jogo com a transitoriedade material e funcional contrasta com a ancestralidade patente em toda sua obra: Kuma tomou o partido de eternizar o efêmero.
Com essa mostra, gostaríamos de apresentar outros aspectos de sua produção criativa, que vai além da arquitetura convencional com um extenso trabalho de intervenções e de arquitetura efêmera (pavilhões, esculturas, demarcadores de espaço e módulos de pensamento construtivo). Fuan, uma casa de chá conceitual criada com balões, tecidos e gás hélio, traz a alma do artista à tona; já Tsumiki, uma obra construída em parceria com o músico Ryūichi Sakamoto, oferece um modelo construtivo, que incita a liberdade criativa das pessoas. Esse bloco, em forma de V, revela um enorme potencial de edificação e interatividade com a ideia de arquitetura. Kengo Kuma resgata o sentido de lugar em seu trabalho, lugar que, como ele mesmo define, é o encontro da natureza com o tempo.
Kuma encontrou no Brasil uma de suas inspirações mais recentes, o cobogó – elemento construtivo vazado, criado no Recife nos anos 1930 pelos engenheiros brasileiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis. Ele viu nesse modelo uma inspiração para criar a fachada lateral da Japan House e a escultura permanente que está apresentada no pátio do edifício. A Japan House tem a clareza de que Kengo Kuma gerou um espaço inspirador que já abriu inúmeras portas de contato entre o Brasil e a cultura japonesa. Por isso, homenageamos o artista, pensador e arquiteto com essa mostra, que articulou a essência da experiência inovadora da nossa casa.
Marcello Dantas, curador e diretor de planejamento da JAPAN HOUSE São Paulo.
(c) Kengo Kuma and Associates
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Data: 18.07.2017―10.09.2017Terça a sábado das 10h às 22hDomingos e feriados das 10h às 18hPreços: Entrada gratuita
Fonte: Site Japan House – São Paulo